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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Namoro - Luis Fernando Veríssimo


Namoro

O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês dois no telefone:
 - Desliga você.
 - Não, desliga você.
 - Você. 
- Você.
 - Então vamos desligar juntos.
 - Tá. Conta até três
. - Um... Dois... Dois e meio... 
Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra? Eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha (Gongonha!) Mamosa. Purupupuca... Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá, olho no olho, dizendo: 
- As dondozeira ama os dondozeiro?
 - Ama. 
- Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais do que as dondozeira ama os dondozeiro.
 - Na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que, etc. E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de línguas, beijos de amígdalas, beijos catetéricos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais. 
Depois de ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que não vê, ou para ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele significa tão pouco que pode até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo. 
E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas.

(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.)

No texto, considera-se que o melhor do namoro é o ridículo associado

A) às brigas por amor. 
B) às mentiras inocentes.
C) às reconciliações felizes. 
D) aos apelidos carinhosos. 
E) aos telefonemas intermináveis

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